sexta-feira, 18 de abril de 2008

Representação do AUTO DA BARCA DO INFERNO, de GIL VICENTE


O Teatro Filandorra apresenta-se, hoje, 18 de Abril, pelas 21.30 horas, no Estúdio Fénix, para interpretar o Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente (1516).


Este espectáculo resulta da parceria cultural que existe entre o Município de Fafe e o Teatro Montelongo.

A referida obra vicentina pertence ao Programa de Língua Portuguesa do 9.º ano de escolaridade e integra o Projecto de Leitura do 3.º Ciclo, subordinado ao tema “ Da leitura à viagem”, que, aliás, fora premiado a nível nacional pelo Projecto Ler+ do Plano Nacional de Leitura e é coordenado pela Prof.ª Rosa Costa.

SOBRE GIL VICENTE:





As interrogações multiplicam-se acerca da vida civil e literária de Gil Vicente. Sabe-se, seguramente, que Mestre Gil escreveu e representou o Auto da Visitação, também conhecido por Monólogo do Vaqueiro, em 1502, precisamente, na câmara da Rainha D.ª Maria, quando nasceu o príncipe D. João, futuro D.João III.
Sublinhe-se que, entre 1502 e 1536, Gil Vicente escrevera e encenara mais de meia centena de autos, comédias, farsas e moralidades, estando ao serviço da família real e sendo sempre um dos seus protegidos.

Paula e Luís Vicente, filhos do autor do Auto da Barca do Inferno, organizaram a edição póstuma das obras de Gil Vicente, publicada em 1562, subordinada ao título Copilaçam de tôdalas obras de Gil Vicente.

Mestre Gil Vicente é, unanimemente, considerado o criador do teatro português, tendo saboreado até à exaustão a temática
ridendo castigate mores.


BREVE EXCERTO DO AUTO DA BARCA DO INFERNO :

Vem Joane, o Parvo, e diz ao Arrais do Inferno:

Parvo: Hou daquesta!
Diabo: Quem é?
Parvo: Eu sô.
É esta a naviarra nossa?
Diabo: De quem?
Parvo: Dos tolos.
Diabo: Vossa. Entra!
Parvo: De pulo ou de voo?
Hou! Pesar de meu avô?
Soma: vim adoecer
E fui má-hora a morrer,
E nela, pera mim só.
Diabo: De que morreste?
Parvo: De quê?
Samicas de caganeira.
Diabo: De quê?
Parvo: De caga merdeira,
Má ravugem que te dê!
Diabo: Entra! Põe aqui o pé!
Parvo: Houlá! Nom tombe o zambuco!
Diabo: Entra, tolaço eunuco,
Que se nos vai a maré!
Parvo: Aguardai, aguardai, houlá!
E onde havemos nós d’ir ter?
Diabo: Ao porto de Lúcifer.
Parvo: Ha-a-a…
Diabo: Ó inferno! Entra cá!
Parvo:
Ó inferno? Eramá!
Hiu!Hiu! Barca do cornudo.

in Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente



NA PEGADA DA SABEDORIA:

Da palavra grega theatron que significa “o lugar de onde se vê” até à significação abrangente que tem hoje a palavra “teatro”, mais de dois mil e quinhentos anos fazem a história desta arte.
Para responder à pergunta: o que é o teatro? É preciso colocar outras perguntas: quem o faz e porquê ? onde é feito ? quem o vê ? quem cria condições para que exista ? como é feito ? de que modo se relaciona com outras artes ? que lugares ocupa na vida de uma sociedade ?

in Folheto da Exposição “O que é o teatro ?”